ROUTE 66: DAS QUE O CORAÇÃO NÃO DEIXA QUE A MEMÓRIA ESQUEÇA...
- casaemconta
- 20 de mar. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 14 de nov. de 2023
Os lábios gretaram de frio. Uns quilómetros à frente as pernas assaram de tanto calor. Choveu, caiu granizo, nevou e fez um sol abrasador. Foram cinco mil quilómetros de carro, dez estados (Califórnia, Nevada, Arizona, Utah, Novo México, Texas Oklahoma, Kansas, Missouri e Illinois) e muitas pessoas – umas tão diferentes das outras. Pessoas que nos receberam verdadeiramente de braços abertos. Que nos roubaram sorrisos genuínos. Nos “envergonharam” de tão prestáveis que foram. Deram-nos tantas lições. E ficaram-nos, claro, no coração.
É a eles que dedico as próximas linhas. Percorrer a Route 66 é fazer parte de um grupo que, até lá chegarmos, não sabíamos que existia. É sentirmo-nos integrados em algo que, ainda que não exista fisicamente, está espelhado em todos os rostos com que nos cruzámos e os lugares por onde passámos. Aqui existe aquilo a que se chama um sentido de pertença. Ninguém nos falou disto antes e por isso é que, talvez pela surpresa, quando nos perguntam do que é que gostámos mais respondemos, sem dúvidas, que foram as pessoas. Todas. Aquelas que nos arrancaram do carro quando viram o nosso mega pé atrás e quiseram saber de nós. Falaram-nos de Portugal e da crise económica por que passámos e dos vídeos do youtube que viram das ondas da Nazaré. Não esquecem o Ronaldo, claro, mas também fazem questão de referir Fátima. Partilharam connosco a vontade de vir conhecer o nosso país da mesma maneira que nós escolhemos ir conhecer o deles. Agradeceram-nos por estarmos lá. E segredaram-nos, desapontados, que ninguém, mais que os estrangeiros, valoriza aquela parte dos Estados Unidos. Não esqueceremos também as outras. Aquelas que nos olharam com desconfiança, as que nós julgámos também por desconfiança e as que, simplesmente, não nos passaram confiança nenhuma.
Por lá, não há café expresso. Nas auto-estradas há demasiados pneus no chão e os restaurantes de fast-food são tantos que chegamos a sentir aquele cheiro a óleo em tudo quanto é canto. Há um momento em que já é psicológico. Lidar com esta questão foi, aliás, um dos grandes desafios desta viagem, que acaba por requerer muitas refeições entre deslocações e paragens rápidas para matar a fome. Opções mais à mão? Mc Donald e derivados, Subway, Burger King e Teddy.

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